segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Verossimilmente o da vez





   We laugh until we think we'll die
   Barefoot on a summer night
   Nothing new is sweeter than with you

   And in the streets you run afree
   Like it's only you and me
   Geeze, you're something to see


De menino dos beagles ele passou a ser a visita constante aos domingos. De amigo terceirizado ele passou a  me ligar sem muita frequência mas sempre com a intenção de marcar uma coisa interessante. Meu melhor amigo diz que eu deveria estar satisfeita porque ele não é do tipo detestável (pra mim) de menino que liga e manda sms de 5 em 5 minutos pra falar alguma besteira. Mas durante todo esse tempo eu, de fato, não estava satisfeita com o relacionamento que eu tinha selado. Eu não aguentava mais ver as pessoas perguntando dele e sobre quando iríamos ter algo mais sério, como se fosse uma obrigação do Código da Ordem dos Acontecimentos que tal evento ocorresse. O que dirá minha mãe, que se apaixona por meus namorados antes mesmo de mim, era nauseante só de ver o carinho que ela sentia por ele. Um dia eu pensei que um casal verdadeiramente apaixonado só podia sentir algo intenso se este sentimento fosse simultâneo, então tentei estudar quais as possibilidades dele estar gostando verdadeiramente de mim se eu não estava tão empolgada com o que tínhamos.
Um dia, como qualquer outro, sempre com muita coisa pra fazer, me dei ao luxo de refletir um pouco. Visitei os perfis de todos os amigos dele e me peguei perguntando o que eu tinha de interessante pra na véspera da viagem à Fortaleza ele abandonar a casa de um amigo onde todo mundo reunido ficou com interrogações na cabeça a respeito de onde ele teria se metido. O que poucos sabem e o que eu nem sonhava era que ele vinha em direção a minha casa. Até mesmo nesse ato de fofura eu menosprezei a dada importância porque pra mim o sono era mais importante e sinceramente o que passava na tv àquela hora interessava à toda a cidade exceto a mim.
Depois visitei os perfis das amigas. Questionava eu, o que restava em mim de agradável na frente de todas aquelas meninas bem vestidas, de cabelos bem escovados e reluzentes, com seus respectivos celulares moderninhos de conta e suas respectivas vagas garantidas na faculdade? O que era meu apartamento nem um pouco sofisticado perto dos metros quadrados mais caros da cidade, meu dinheiro contado para a passagem no transporte coletivo frente aos seus carros do ano, disponíveis a qualquer momento? Pensei, repensei, com lógica e subjetividade. E não cheguei a resposta alguma. Talvez eu realmente não seja nada perto deles todos e essa é a pior parte. O momento em que eu concluo que nada de interessante eu tenho comparado aos amigos e amiguinhas dele, mas mesmo assim ele me escolhe vezenquando pra passar a tarde e gastar o tempo, pra passear pelas redondezas um tanto quanto perigosas da minha casa e ainda pedir pra conduzir meu cachorro que já passou da semana de tomar banho. São encaminhadas a mim as ligações dele e que por sinal eu nunca atendo, muitas vezes, é claro, por não ouvir mas muitas também, admito, por não estar afim de atender, achando que o problema da noite - mesmo ele dizendo poder ser útil nessas horas - ele não é capaz de resolver por seus discursos clichês de consolação. O que eu deveria saber é que mesmo clichês são os discursos constantemente oferecidos, a companhia dele é aquela que não exige que eu esteja bem vestida, magra, maquiada e com os cabelos bem escovados e reluzentes como os de suas amigas. É o apoio dele que recebo naquilo que nem eu mesma sei se vou conseguir cumprir. Eu exijo leitura, cabelo, entonações e mais uma série de coisas de alguém que nunca me pediu sequer atenção. E mesmo assim, independente de tudo isso e sem observar se há reciprocidade ou não, ele está aí pra mim. Foi inexatamente há menos de uma hora que fiquei ciente de tudo isso. Foi então que a ficha caiu. Enquanto eu andava no clima da despaixão ele estava conseguindo superá-la. Por que não tentar superar também? Há um bom motivo para isso. Se eu fizesse o mesmo questionamento sobre ele em relação às pessoas que eu conheço, a resposta seria totalmente contrária. Ele é muito mais do que toda essa gente efêmera que se preocupa com suas roupinhas caras e festas e bebidas e as outras porcarias fúteis. Ele, com toda a sinceridade, pronuncia com a maior doçura que gosta de mim ao invés de dizer que me ama.  Engraçado, inteligente e com um valor muito maior do que aquele ao qual eu o associava. O menino dos beagles ganhou minha confiança e passou à frente do idiota de moicano e óculos, do musculoso do colegial e de todo o resto que me chama a atenção e tornou-se o da vez. Porque a gente precisa dar chances a quem merece e é exatamente o que eu vou fazer a partir de agora, antes que ele perceba que eu talvez não seja merecedora de tanto.

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