Eu procuro, juro que procuro um bom amigo pra desabafar essas coisas, mas me sinto muito mais à vontade tratando do assunto ao escrever.
Eu nunca pensei que um dia eu pagaria de mulherzinha, mas eis que esse dia chegou.
Festa estranha com gente esquisita, mas eu tava legal e agüentava a birita dos amigos. Uma data e boas coisas pra comemorar, motivos suficientes pra sair numa sexta feira de halloween. Encontrei bons amigos, dialoguei pouco com muitos e muito com poucos, até chegar a menina bonitinha da outra mesa, coincidentemente conhecida. Ela dançou um pouco e um olhar me incomodou. Foi só eu me afastar pra bater um papo e avistei de longe uma conversa com a tal menina iniciada por ele. Eu, que nunca soube como era ser insegura, na exatidão do momento senti minha roupa do avesso, minha bunda caída e minha maquiagem toda borrada. Daí em diante começou o drama. Cortei conversa quando ele se aproximou e mandei ele voltar pro que tava fazendo. Fui discutir com uma amiga e lá veio ele interromper pra me falar mil coisas, mas tudo entrava por um ouvido e saía por outro. A vontade era de sumir e nada do que ele me falava era aprovado pelo meu teste de verossimilhança. Optei por receber alguns beijos, agüentei as gracinhas, mas minha falta de auto estima conseguiu me afetar brutalmente. Reclamando pelos cantos da festa, ouvi uma amiga dizer "que linda com ciúme". Linda uma vírgula! Linda é ser independente, senhora de si, segura de seus sentimentos e do que representa pra cada um. Frutos implacáveis da verdadeira beleza de uma mulher os quais não sei quando os perdi. Eu que sempre consegui conter o desespero, me senti a mais boboca das princesas da Disney e, se não estivesse devidamente caracterizada de Amy Winehouse zumbi, juraria que uma aparência cinderelesca seria de longe a parte menos genuína de uma suposta fantasia de princesinha encantada que cai em todas as armadilhas que a bruxa má planeja.
O problema é que apesar da esportiva do terror - simulação pior não houve em toda a história do halloween - tratava-se da vida real. Não havia plano, muito menos bruxa, nem lado do bem ou do mal. O que havia, na veracidade dos fatos, era uma garota por que tão séria segura em sua dança e outra totalmente insegura sobre o que tinha em mãos.
E então, desde o dia da Festa Mais Asquerosa Da Face Da Terra, resquícios de um verdadeiro terror me assombraram por noites e noites a fio. Cobria-me com o edredom dos pés à cabeça e estremecia só de lembrar dessa palavra.
Mulherzinha.
Mulherzinha.
Mulherzinha.
Não acredito que ele tinha conseguido me transformar em uma mulherzinha insegura, com toda a licença do pleonasmo.
Aí o tempo passou.. O inefável remédio pra tudo nessa vida me fez diagnosticar corretamente minha complicação cardíaca. Sem mais receitas nem rodeios, foi detectado: era amor. Era ciúme. Era medo. E estes sintomas quando se unem, nos imunizam de qualquer racionalidade digna de pessoas saudáveis, sem grande personas ao seu lado, sem nada a perder. Tal aspecto doentio nos dá coragem em várias situações, mas nos faz pisar em ovos em outras. A doença arranca de nós todo o orgulho, toda a sobriedade, toda e qualquer atitude ensaiada para situações com potencial de ocorrerem. Seria engraçado, se não beirasse a tragédia.
Aconteceu que eu gostei de ser doente. Para isso, acredite, é preciso, sobretudo, coragem. Encurtei o cobertor, expulsei todos os monstros que sobrevoavam minha mente. Quando parei de sentir medo e desapeguei do ciúme, só restou o amor. Daí captei de primeira e encarei com sensatez: amar chega a ser um negócio danado de bom. Então deixei de ter receio de ter anulada toda a minha segurança, porque aprendi que por trás de toda figura de mulherzinha há sempre uma grande e corajosa mulher.
Compreendo esse desatino, essa confusão mental que é amar e querer ter a companhia especifica, porém alheia. Sorte pra nós nessa jornada, beijos
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Espero vc no meu blog.