segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Breve continuação

Foi então, na volta pra casa, que, coincidentemente, ele pareceu ler meus pensamentos mais recentes sem permissão.
- O que tu tens?
- O que eu tenho o quê?
- O que tu tens que me faz gostar de ti?
- Não sei. - respondi.
E calei, pensando baixinho. "Ainda bem que ele também não sabe."

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Verossimilmente o da vez





   We laugh until we think we'll die
   Barefoot on a summer night
   Nothing new is sweeter than with you

   And in the streets you run afree
   Like it's only you and me
   Geeze, you're something to see


De menino dos beagles ele passou a ser a visita constante aos domingos. De amigo terceirizado ele passou a  me ligar sem muita frequência mas sempre com a intenção de marcar uma coisa interessante. Meu melhor amigo diz que eu deveria estar satisfeita porque ele não é do tipo detestável (pra mim) de menino que liga e manda sms de 5 em 5 minutos pra falar alguma besteira. Mas durante todo esse tempo eu, de fato, não estava satisfeita com o relacionamento que eu tinha selado. Eu não aguentava mais ver as pessoas perguntando dele e sobre quando iríamos ter algo mais sério, como se fosse uma obrigação do Código da Ordem dos Acontecimentos que tal evento ocorresse. O que dirá minha mãe, que se apaixona por meus namorados antes mesmo de mim, era nauseante só de ver o carinho que ela sentia por ele. Um dia eu pensei que um casal verdadeiramente apaixonado só podia sentir algo intenso se este sentimento fosse simultâneo, então tentei estudar quais as possibilidades dele estar gostando verdadeiramente de mim se eu não estava tão empolgada com o que tínhamos.
Um dia, como qualquer outro, sempre com muita coisa pra fazer, me dei ao luxo de refletir um pouco. Visitei os perfis de todos os amigos dele e me peguei perguntando o que eu tinha de interessante pra na véspera da viagem à Fortaleza ele abandonar a casa de um amigo onde todo mundo reunido ficou com interrogações na cabeça a respeito de onde ele teria se metido. O que poucos sabem e o que eu nem sonhava era que ele vinha em direção a minha casa. Até mesmo nesse ato de fofura eu menosprezei a dada importância porque pra mim o sono era mais importante e sinceramente o que passava na tv àquela hora interessava à toda a cidade exceto a mim.
Depois visitei os perfis das amigas. Questionava eu, o que restava em mim de agradável na frente de todas aquelas meninas bem vestidas, de cabelos bem escovados e reluzentes, com seus respectivos celulares moderninhos de conta e suas respectivas vagas garantidas na faculdade? O que era meu apartamento nem um pouco sofisticado perto dos metros quadrados mais caros da cidade, meu dinheiro contado para a passagem no transporte coletivo frente aos seus carros do ano, disponíveis a qualquer momento? Pensei, repensei, com lógica e subjetividade. E não cheguei a resposta alguma. Talvez eu realmente não seja nada perto deles todos e essa é a pior parte. O momento em que eu concluo que nada de interessante eu tenho comparado aos amigos e amiguinhas dele, mas mesmo assim ele me escolhe vezenquando pra passar a tarde e gastar o tempo, pra passear pelas redondezas um tanto quanto perigosas da minha casa e ainda pedir pra conduzir meu cachorro que já passou da semana de tomar banho. São encaminhadas a mim as ligações dele e que por sinal eu nunca atendo, muitas vezes, é claro, por não ouvir mas muitas também, admito, por não estar afim de atender, achando que o problema da noite - mesmo ele dizendo poder ser útil nessas horas - ele não é capaz de resolver por seus discursos clichês de consolação. O que eu deveria saber é que mesmo clichês são os discursos constantemente oferecidos, a companhia dele é aquela que não exige que eu esteja bem vestida, magra, maquiada e com os cabelos bem escovados e reluzentes como os de suas amigas. É o apoio dele que recebo naquilo que nem eu mesma sei se vou conseguir cumprir. Eu exijo leitura, cabelo, entonações e mais uma série de coisas de alguém que nunca me pediu sequer atenção. E mesmo assim, independente de tudo isso e sem observar se há reciprocidade ou não, ele está aí pra mim. Foi inexatamente há menos de uma hora que fiquei ciente de tudo isso. Foi então que a ficha caiu. Enquanto eu andava no clima da despaixão ele estava conseguindo superá-la. Por que não tentar superar também? Há um bom motivo para isso. Se eu fizesse o mesmo questionamento sobre ele em relação às pessoas que eu conheço, a resposta seria totalmente contrária. Ele é muito mais do que toda essa gente efêmera que se preocupa com suas roupinhas caras e festas e bebidas e as outras porcarias fúteis. Ele, com toda a sinceridade, pronuncia com a maior doçura que gosta de mim ao invés de dizer que me ama.  Engraçado, inteligente e com um valor muito maior do que aquele ao qual eu o associava. O menino dos beagles ganhou minha confiança e passou à frente do idiota de moicano e óculos, do musculoso do colegial e de todo o resto que me chama a atenção e tornou-se o da vez. Porque a gente precisa dar chances a quem merece e é exatamente o que eu vou fazer a partir de agora, antes que ele perceba que eu talvez não seja merecedora de tanto.

domingo, 9 de setembro de 2012

Dos repentes que dão e eu mando arquivar

Dando uma geral nos meus rascunhos olha o que eu achei por aqui!
 "Resolvi vir aqui porque me deu uma vontade imensa de retratar algo que torna a vida meio falsa. Hoje entrei no Messenger e meu irmão caçula puxou assunto comigo. Por mais que eu possa admitir que não houve nenhum sinal de carinho entre nós - como quase nunca houve - aquilo não me soava como normal. Não entendia, não parecia que eu já havia morado com ele e dormido no mesmo quarto com o pestinha por tantos e tantos anos. Me parecia algo tão superficial o fato de ele dizer "maninha" e perguntar como as coisas estavam indo. E eu parei pra pensar como eu havia fragilizado meus laços durante todos esses anos; meus amigos, conhecidos que poderiam ter virado amigos, e amigos que poderiam ter se tornado amigos de verdade. Eu pensei que onde e como eu me encontrava naquele exato momento, se dava pela minha teimosa mania que construir e fingir fortalecer uma amizade pelo computador. Esse equipamento desgraçado encurta distâncias e amizades também. Esse equipamento capaz de nos proporcionar tantas informações mas inútil quanto aos sentimentos. Uma palavra pode significar muito mas mesmo que verdadeira, parece que enfraquece ao ser lida ao invés de escutada. Não trocaria meus velhos tempos de adolescente por nada nesse mundo mas confesso que invejo a época de meus pais onde eles não abominavam uma saída a qualquer lugar para ficar horas e horas "sem fio", se é que me entendem. Hoje em dia olho pra trás e imagino quantas pessoas poderiam estar comigo de verdade ao invés de um simples depoimento.
Pois bem. Eu ainda não saí de casa, ainda vivo com meu insuportável irmão, ainda não saí de meus tempos de adolescente e adoro passar o dia no computador. Mas morro de medo de que tudo isso seja algo tão falso na minha vida e na vida de todo mundo. Morro de medo de imaginar que essas palavras lidas não sejam nada mais do que mentiras, sentimentos precipitados que poderiam se concretizar com uma simples conversa cara a cara, decifrar olhares e ajudar alguém com uma simples companhia - de verdade. É preciso sair, rir de verdade, dar a mão, um abraço apertado, sentir o calor do outro e ter um amigo ao vivo e a cores. Amo, com todo o sentido da palavra, meus amigos que me fazem rir mesmo sem ver na madrugada, me mandam depoimentos com frases carinhosas, mas sou extremamente apaixonadas por aqueles que dividem comigo o dia, o tédio, o lanche, a dor, o veneno e a piada, porque esses sim por mais que eu me afaste um dia por qualquer circunstância, eu posso encher a boca e dizer que o tempo que passei com este amigo pude usufruir de seu calor, de toda a sua bondade e maldade e todo o resto que ele pôde me proporcionar durante o tempo em que estivemos juntos."

sábado, 8 de setembro de 2012

Despaixão

"Eu aprendi que a alegria
 de quem está apaixonado
 é como a falsa euforia
 de um gol anulado."


 Acho que tô vivendo o clima da despaixão. Achei meio insano tal idéia vir na minha cabeça em uma interessante aula de matemática em pleno sábado à tarde, mas resolvi pesquisar a fim de saber se a palavra existia mesmo. E não é que existia? "Despaixão ou desapaixonamento é a libertação das paixões, dos desejos e ambições que obscurecem e modificam a mente do ser humano." Simples e nada do que eu não já imaginasse que fosse. Confirmei minha tese e resolvi pôr no papel pra organizar os fatos. A despaixão pra mim é um conceito totalmente fácil de compreender e basta saber o que significa seu antônimo. Paixão. Sentimento de euforia no princípio de um relacionamento. Geralmente amoroso, mas também é possível se apaixonar por um amigo, uma música, um filme e etc. Se não for muita ousadia minha, talvez a paixão seja a Belle Époque do coração. Tomemos como exemplo um relacionamento amoroso. Tudo é muito bonito na pessoa alheia. Seus olhos, o sorriso, o jeito de andar, uma atitude nobre e até mesmo aquele defeito que também é bonito escondido no meio de tantas características nobres. Ao escutar uma música ou lembrar de uma situação na companhia da pessoa, é inevitável não se pegar sorrindo à toa. É fato, o novo sempre será surpreendentemente incrível. Depois de entender a paixão, a despaixão fica estupidamente compreensível. No entanto, enfrentá-la carece de muita habilidade. Despaixão é o momento em que você já viu tudo ou quase tudo de alguém, que com qualidades ele tem ótimos defeitos. O jeito de andar torna-se estranho, a risada não é mais a mesma e as brincadeirinhas estão cansando. O privilégio que era encontrá-lo no fim da tarde acaba tornando-se parte da rotina e os outros não mais se surpreendem de vê-los juntos. Em suma, um relacionamento clímax perde toda a graça, a novidade, a paixão do princípio. Mas é aí que muitos se enganam. É aí que todo mundo tropeça e não levanta, é aí que se larga a mão do outro e não se retorna. A despaixão é uma prova, um teste. Um filtro que seleciona quem é capaz de manter o sentimento depois de observar microscopicamente cada defeito do outro, a dor alheia, as falhas e os tropeços. E isso sempre elimina mais de 50% dos apaixonados de antes, porque se apaixonar é muito fácil. É como uma névoa temporária que encobre o grotesco e nos permite o encantamento. Mas aí vai uma dica: superar a despaixão é um passo para alcançar o amor. Tempos atrás passei rápido na sala e vi a cena de um filme da qual nunca mais esqueci. "A gente se apaixona pela pessoa por suas qualidades e começa a amá-la por seus defeitos." Essa é uma das maiores verdades que existem. Amar tolera erros incessantes, falhas, decepções constantes. Porque amor nunca foi sinônimo de paixão, quem sabe seja um hiperônimo dela. Mas o que fazer para conseguir superar esse período de transe? Só há uma única saída: esperar. Paciência é tudo. Paciência com tudo o que vier nesse momento e não parecer tão agradável aos teus olhos. Quer uma ajuda? Pense que você também possui defeitos e a superação deles pelos outros também é uma grande dificuldade. Respeito mútuo sempre foi o mínimo a se ter por alguém. Despaixão tem dois caminhos, largá-la ou continuar. Desistir é partir pro respeito, continuar é dizer sim ao amor. Ah, o amor. As linhas imperfeitas do rosto e o defeito mais cruel serão embaçados por uma névoa permanente. Uma velha paixão como um amor novinho em folha é bom aproveitar. Porque nunca ouvi também falar na palavra desamor, mas também nem quis pesquisar pra saber se existia.

 De alguém desapaixonado(a) esperando ser surpreendido(a),
 Anônimo