
É comum em vésperas de ano novo os meios de comunicação ficarem naquela expectativa para o ano seguinte. "Faltam 2 dias para 2011" "Falta exatamente 1 hora, 45 minutos e 39 segundos para 2011", qualquer coisa do tipo. Era mais comum ainda ela não contar os dias e eles passarem despercebidos em sua rotina. Nada de ocupada, desleixada, eles só não tinham tanta importância.
Em um dia tecnicamente ensolarado, ela acordou tecnicamente cedo e ao tomar seu banho tecnicamente saudável ela escutava o rádio ligado avisando "Neste último dia do ano você ainda pode ser feliz". Até hoje ainda não se detectou qual região do sistema de audição até o córtex cerebral falhou ao captar o som "último dia do ano" e transformou para "último dia de sua vida" dentro desta moça. Foi o suficiente para quem não sabia o que era ser feliz há muito tempo repensar em muitas e confiar na mensagem do rádio que realmente, ela poderia ser feliz. Saiu rapidamente e se arrumou com uma rapidez nunca vista por um homem. Deu um abraço apertado na mãe e no pai, deu um puxão de cabelo no caçula e fez um cafuné no cachorro. Foi até a cidade vizinha falar com os avós, depois almoçou mais de 1kg de purê com o primo que mais gostava que não entendeu nada, e conversou com aquela prima que nunca mais conversara. Falou com os ex-amigos de escola, saltou de pára-quedas, bungee jump, chegou tarde para o asa delta, mas o instrutor sentiu a necessidade que a praticante tinha em fazer aquilo naquele exato momento. Foi ao shopping e mesmo que parecesse sem sentido, comprou todas as roupas que achava bonita na vitrine. Lá encontrou umas amigas, e no estacionamento daquele estabelecimento, algo não a deixou tirar do meio da rota e foi atropelada por um Tucson 2011 prateado, lembro-me bem da cara do motorista desesperado tentando explicar que a culpa não havia sido dele, que em uma curva ele precisava de velocidade e fez questão de nos levar ao hospital para os cuidados.
Mandou chamar todos que não tinha visto naquele dia 31, incluindo aquele do qual não digo o nome porque eu mesma não o suporto me referir. Chamou todos como se fosse ma urgência ou até uma despedida e eu não entendia nada. Ela sabia que doeria, mas precisava vê-lo naquele exato momento como se tudo fosse acabar e ela precisasse do último olhar. Os ferimentos nem tinham sido tão graves, mas alguma coisa me dizia que a fraqueza de seu corpo é que era o problema. Parecia que mais qualquer coisa que a machucasse ela não aguentaria, e não aguentou. E ele não foi. E eu não precisava saber daquela repetida história de sempre que mesmo sem merecer, o coração dela sempre foi dele. Sim, ela o amava, com todas as partículas do corpo e artérias e músculos que se contraíam em frequências totalmente diferentes quando o via, fazendo seu corpo tremer por inteiro só de saber que ele era uma parte exilada dela e que permaneceria assim pra sempre. Sim, ela o amou todos os dias de sua vida, até nos que ela sentiu ódio de si por ser tão idiota para ele, ela lembrava dele nem que fosse por 1 segundo. E ela sabia que com ele era totalmente o contrário, mas também sabia que amar às vezes era assim mesmo.
Pode ser que seja verdade essa história de que a essência da pessoa junto com seus sentimentos mais nobres permaneçam em sua alma e vão com ela aonde for. Então pode ser que seja verdade também que onde quer que ela esteja, ela ainda o ama com toda sua força.
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