Naquele mesmo dia eu havia sentido falta dele. Não, nos outros dias eu tinha dúvidas, de ser ou não orgulhosa, de ir ou não pedir desculpas, não era nada semelhante a saudade. Mas naquele dia eu pensei que podia ter perdido um amigo, um alguém que podia estar ao meu lado sempre. E esteve.
Talvez eu seja sim orgulhosa e as pessoas não me contem certas coisas por receio dos meus retornos, sustos. Mas como eu queria que elas soubessem que já tô crescidinha e já não me assusto nem me amedronto com coisas que eu achava absurdas há um tempo atrás. O que me alegra é a simplicidade, e a dele foi na hora certa. Porque ele sabe a dimensão exata das coisas, ele sabe não complicar a vida. Ele já é tão crescidinho que não tem mais idade pra sentir orgulho nem "ficar de mal" como eu, madura, ainda teimo em ficar com as pessoas por besteira.
Ele me escutou e quando eu terminei de me explicar, quando pensei que teria que ouvir um sermão daqueles falando o quanto sou "de lua", criança e falsa, ele me abraçou. Me abraçou tão forte que deu pra sentir mais fácil o quanto eu era necessária na vida dele, o quanto eu seria burra deixando ele sair da minha vida tão rápido como os últimos que foram. Porque ele não faz draminha e não ficou parado em casa vendo a vida passar só por estar brigado comigo nem deixa de fazer certas coisas porque eu não gosto, mas tinha naquela cabeça movida a álcool que entre tantos amigos de farra, bebida e sexo que me assustavam eu, na minha ainda grande inocência não era desse grupo mas era a melhor, a melhor amiga dele.
Esse retorno foi tão simples e me fez pensar no quanto a gente complica nossa vida, achando que pequenas coisas podem ter ferido nosso ego. E me vejo complicando a minha vida durante anos e imaginado como as coisas teriam sido diferentes sem esses obstáculos, essas barreiras que eu mesma imponho. E depois de um feriado frustrante e de brigas e bregas, bossas e fossas eu me deparo rindo, tentando viver minha vida pelo menos um pouquinho do jeito dele e escrevendo textos como minha amiga aconselhou: "sem ser pra ele e sem falar dele" mas trocando o sujeito para aquele, que sempre me pôs para cima e fez eu me sentir muito para o ele antigo; meu amigo simples, André.
2 Rubrica: psicopatologia. compulsão para falar, loquacidade exagerada que se nota em determinados casos de neurose e psicose, como se o paciente, assim, quisesse dar vazão ao grande número de idéias que passam por sua cabeça; logomania.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
Megasena
- Eras já pensou se a gente ganhasse toda essa grana?
- Já pensou não, a gente vai ganhar!
- Tá bom. O que vamos fazer então?
- Tava pensando em dar um jeito na casa, uma parte pros teus avós, quitar umas dívidas e outra parte pra Igreja, que tal?
- Uma boa. Caramba ia ser ótimo se a gente ganhasse mesmo..
- A gente vai ganhar, já disse! Só é preciso pensar positivo.
- É, só preciso me acostumar com a idéia.
Depois de tanta insistência e tanta viagem, resolvi sonhar com esse suposto prêmio. Passaram carros, maquiagens, sapatos, bolsas e casacos na minha cabeça. Imaginei o quanto isso poderia comprar meu sorriso por alguns finais de semana, meses, mas não anos. Pensei também nos pobres, naquele parente que anda precisando, naquele presente pra amiga, e o quanto eu teria um pouco de poder nas mãos. Pensei nele, pensei que ganhá-lo sem preço algum era como ganhar na Megasena. Pensei também na hipótese de comprar o amor dele, mas ah, isso não tem preço. Pior ainda, não está à venda. Tem alguém cuidando muito bem desse imóvel, com pequenas e quase inexistentes chances dele ser vendido, muito menos sabendo-se que a maior compradora seria eu. Ou não.
O que me move todos os dias é o deslize, quem sabe eu possa aproveitá-lo e oferecer minhas propostas recusáveis que talvez encantem. Como já disse alguma vez, é difícil mas não é impossível. E por mais que todo mundo diga que eu tenho que desistir dessa compra, de que já deu, já passou minha vez, eu continuo acreditando que é possível sim, que eu devo acreditar em mim e só eu mesma vou saber meu limite.
O que me move é essa impossibilidade e a possibilidade de eu tornar isso possível, me entende? E poder mostrar pra todo mundo que eu consegui, mostrar àquela amiga pessimista que mais uma vez desacreditou em mim, que eu fiz acontecer.
- Tu não vais ter ele de volta, já chega.
- Quem disse que não? Eu ainda vou casar com ele, vai ver só.
- Não vai mesmo. Deixa de ser besta, isso não vai acontecer.
- Claro que vai, o que te faz pensar que não?
- E o que te faz pensar que sim?
- Eu mesma.
- E ele?
- É o problema, mas eu consigo.
- Pára com isso, não vai acontecer.
- Ah vai. Se digo que vai é porque vai.
- Em que te enfias tanto? E não vale dizer que é em ti mesma.
- Lembra quando disse que ia namorar com ele um dia? Pois é, eu namorei.
- Durante 11 dias.
- Que seja! Eu namorei. E se durar 11 dias também não importa.
- E vais querer que seja assim SE acontecer?
- QUANDO ACONTECER e durar 1, 3, 5 ou 11 não importa, já vou poder morrer.
- Falando sério agora, de onde tiras tanta convicção?
É só pensar positivo.
- Já pensou não, a gente vai ganhar!
- Tá bom. O que vamos fazer então?
- Tava pensando em dar um jeito na casa, uma parte pros teus avós, quitar umas dívidas e outra parte pra Igreja, que tal?
- Uma boa. Caramba ia ser ótimo se a gente ganhasse mesmo..
- A gente vai ganhar, já disse! Só é preciso pensar positivo.
- É, só preciso me acostumar com a idéia.
Depois de tanta insistência e tanta viagem, resolvi sonhar com esse suposto prêmio. Passaram carros, maquiagens, sapatos, bolsas e casacos na minha cabeça. Imaginei o quanto isso poderia comprar meu sorriso por alguns finais de semana, meses, mas não anos. Pensei também nos pobres, naquele parente que anda precisando, naquele presente pra amiga, e o quanto eu teria um pouco de poder nas mãos. Pensei nele, pensei que ganhá-lo sem preço algum era como ganhar na Megasena. Pensei também na hipótese de comprar o amor dele, mas ah, isso não tem preço. Pior ainda, não está à venda. Tem alguém cuidando muito bem desse imóvel, com pequenas e quase inexistentes chances dele ser vendido, muito menos sabendo-se que a maior compradora seria eu. Ou não.
O que me move todos os dias é o deslize, quem sabe eu possa aproveitá-lo e oferecer minhas propostas recusáveis que talvez encantem. Como já disse alguma vez, é difícil mas não é impossível. E por mais que todo mundo diga que eu tenho que desistir dessa compra, de que já deu, já passou minha vez, eu continuo acreditando que é possível sim, que eu devo acreditar em mim e só eu mesma vou saber meu limite.
O que me move é essa impossibilidade e a possibilidade de eu tornar isso possível, me entende? E poder mostrar pra todo mundo que eu consegui, mostrar àquela amiga pessimista que mais uma vez desacreditou em mim, que eu fiz acontecer.
- Tu não vais ter ele de volta, já chega.
- Quem disse que não? Eu ainda vou casar com ele, vai ver só.
- Não vai mesmo. Deixa de ser besta, isso não vai acontecer.
- Claro que vai, o que te faz pensar que não?
- E o que te faz pensar que sim?
- Eu mesma.
- E ele?
- É o problema, mas eu consigo.
- Pára com isso, não vai acontecer.
- Ah vai. Se digo que vai é porque vai.
- Em que te enfias tanto? E não vale dizer que é em ti mesma.
- Lembra quando disse que ia namorar com ele um dia? Pois é, eu namorei.
- Durante 11 dias.
- Que seja! Eu namorei. E se durar 11 dias também não importa.
- E vais querer que seja assim SE acontecer?
- QUANDO ACONTECER e durar 1, 3, 5 ou 11 não importa, já vou poder morrer.
- Falando sério agora, de onde tiras tanta convicção?
É só pensar positivo.
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