terça-feira, 7 de setembro de 2010

André (ele novo)

Naquele mesmo dia eu havia sentido falta dele. Não, nos outros dias eu tinha dúvidas, de ser ou não orgulhosa, de ir ou não pedir desculpas, não era nada semelhante a saudade. Mas naquele dia eu pensei que podia ter perdido um amigo, um alguém que podia estar ao meu lado sempre. E esteve.
Talvez eu seja sim orgulhosa e as pessoas não me contem certas coisas por receio dos meus retornos, sustos. Mas como eu queria que elas soubessem que já tô crescidinha e já não me assusto nem me amedronto com coisas que eu achava absurdas há um tempo atrás. O que me alegra é a simplicidade, e a dele foi na hora certa. Porque ele sabe a dimensão exata das coisas, ele sabe não complicar a vida. Ele já é tão crescidinho que não tem mais idade pra sentir orgulho nem "ficar de mal" como eu, madura, ainda teimo em ficar com as pessoas por besteira.
Ele me escutou e quando eu terminei de me explicar, quando pensei que teria que ouvir um sermão daqueles falando o quanto sou "de lua", criança e falsa, ele me abraçou. Me abraçou tão forte que deu pra sentir mais fácil o quanto eu era necessária na vida dele, o quanto eu seria burra deixando ele sair da minha vida tão rápido como os últimos que foram. Porque ele não faz draminha e não ficou parado em casa vendo a vida passar só por estar brigado comigo nem deixa de fazer certas coisas porque eu não gosto, mas tinha naquela cabeça movida a álcool que entre tantos amigos de farra, bebida e sexo que me assustavam eu, na minha ainda grande inocência não era desse grupo mas era a melhor, a melhor amiga dele.
Esse retorno foi tão simples e me fez pensar no quanto a gente complica nossa vida, achando que pequenas coisas podem ter ferido nosso ego. E me vejo complicando a minha vida durante anos e imaginado como as coisas teriam sido diferentes sem esses obstáculos, essas barreiras que eu mesma imponho. E depois de um feriado frustrante e de brigas e bregas, bossas e fossas eu me deparo rindo, tentando viver minha vida pelo menos um pouquinho do jeito dele e escrevendo textos como minha amiga aconselhou: "sem ser pra ele e sem falar dele" mas trocando o sujeito para aquele, que sempre me pôs para cima e fez eu me sentir muito para o ele antigo; meu amigo simples, André.

sábado, 4 de setembro de 2010

Megasena

- Eras já pensou se a gente ganhasse toda essa grana?
- Já pensou não, a gente vai ganhar!
- Tá bom. O que vamos fazer então?
- Tava pensando em dar um jeito na casa, uma parte pros teus avós, quitar umas dívidas e outra parte pra Igreja, que tal?
- Uma boa. Caramba ia ser ótimo se a gente ganhasse mesmo..
- A gente vai ganhar, já disse! Só é preciso pensar positivo.
- É, só preciso me acostumar com a idéia.

Depois de tanta insistência e tanta viagem, resolvi sonhar com esse suposto prêmio. Passaram carros, maquiagens, sapatos, bolsas e casacos na minha cabeça. Imaginei o quanto isso poderia comprar meu sorriso por alguns finais de semana, meses, mas não anos. Pensei também nos pobres, naquele parente que anda precisando, naquele presente pra amiga, e o quanto eu teria um pouco de poder nas mãos. Pensei nele, pensei que ganhá-lo sem preço algum era como ganhar na Megasena. Pensei também na hipótese de comprar o amor dele, mas ah, isso não tem preço. Pior ainda, não está à venda. Tem alguém cuidando muito bem desse imóvel, com pequenas e quase inexistentes chances dele ser vendido, muito menos sabendo-se que a maior compradora seria eu. Ou não.
O que me move todos os dias é o deslize, quem sabe eu possa aproveitá-lo e oferecer minhas propostas recusáveis que talvez encantem. Como já disse alguma vez, é difícil mas não é impossível. E por mais que todo mundo diga que eu tenho que desistir dessa compra, de que já deu, já passou minha vez, eu continuo acreditando que é possível sim, que eu devo acreditar em mim e só eu mesma vou saber meu limite.
O que me move é essa impossibilidade e a possibilidade de eu tornar isso possível, me entende? E poder mostrar pra todo mundo que eu consegui, mostrar àquela amiga pessimista que mais uma vez desacreditou em mim, que eu fiz acontecer.

- Tu não vais ter ele de volta, já chega.
- Quem disse que não? Eu ainda vou casar com ele, vai ver só.
- Não vai mesmo. Deixa de ser besta, isso não vai acontecer.
- Claro que vai, o que te faz pensar que não?
- E o que te faz pensar que sim?
- Eu mesma.
- E ele?
- É o problema, mas eu consigo.
- Pára com isso, não vai acontecer.
- Ah vai. Se digo que vai é porque vai.
- Em que te enfias tanto? E não vale dizer que é em ti mesma.
- Lembra quando disse que ia namorar com ele um dia? Pois é, eu namorei.
- Durante 11 dias.
- Que seja! Eu namorei. E se durar 11 dias também não importa.
- E vais querer que seja assim SE acontecer?
- QUANDO ACONTECER e durar 1, 3, 5 ou 11 não importa, já vou poder morrer.
- Falando sério agora, de onde tiras tanta convicção?


É só pensar positivo.