quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


Eu tava pensando em voltar a ser criança. Pensando em voltar não, porque não posso voltar no tempo. Mas como eu queria ainda ser criança. Não fazendo nada da vida, com a maior pureza do mundo, não se magoando e nem permitindo fazer do seu coração um boneco de fantoche. Eu adorava minha infância, lembro de cada mínimo detalhe do que eu fazia e do que eu era. Mas algumas coisas não mudam.
Pensando bem, por outro lado algo ainda iria permanecer, ou voltar à sua origem. Minha teimosia eterna, de saber que algo não é certo, que aquilo dói, que aquilo continua em sigilo, que aquilo é pra sempre. Como aqueles pedaços de morango que vêm no iogurte; mesmo eu sendo apaixonada por morangos e sabendo que aquilo são pedaços de morango no iogurte eu não consigo tomar aquilo com os malditos pedaços. E sempre acabo deixando de lado, apesar de minha mãe sempre falar pra eu jogar aquilo fora. É o meu amor, mesmo eu sabendo que é algo que eu não vivo sem, eu não consigo deixá-lo passar pela minha garganta, deixar aquilo ir embora e fingir que não foi nada. Deixo de lado (não que eu queira deixar!) só pra tentar viver um dia sequer, sorrindo e vivendo uma ilusão de que minha vida está às mil maravilhas de novo que nem o antepenúltimo semestre. E todos os meus amigos, todos que me vêem ainda com essa bendita teimosia me dizem pra jogar isso fora, deixar passar, curtir a vida e esquecer de algo tão insignificante. Mas não é insignificante, são pedaços de morango, e eu adoro pedaços de morango! Devo dizer, é amor, e sem amor ou sem essa droga de amor dele eu não consigo viver, eu não sou completa! Não tem como deixar passar, até porque nem quero. Ô teimosia...
Hoje minha mãe tava com um bebê no colo. Ele chegou triste, desanimado, mas foi só ver um balão verde que encontrou algo pra se entreter (como é bom ser criança, sempre encontrando diversão nas coisas mais simples possíveis). O balão verde tava pendurado por um fio prata que o ligava aos outros balões maiores. Quando cheguei, mamãe o carregava já em pé, balançando o balão que o fazia rir. Pude ver o brilho no olhar do bebê, achando tudo aquilo incrivelmente legal. Agora era a vez dele. Empurrava o balão e este ia pra lá e voltava bem próximo do rosto do bebê e ele ria, feito um bobo, por uma coisa que os adultos certamente nem prestariam atenção. Foi quando lá fui eu, arrancar o balão do fio e dá-lo pro 'baby' que já ia embora. "toma", disse. Não o vi mais rir, não o vi mais o brilho dos seus olhos, não vi mais nada. Minto, vi apenas uma grande indiferença em relação dele ter o balão livre em suas mãos ou pendurado no meio de outros balões. E no mesmo instante me lembrei de você. Não que isso seja algo surpreendente, porque uma hora ou outra do dia lembro de você. Uns minutos ou outros da hora eu lembro de você. Uns segundos ou outros milésimos deles eu lembro que você está vivo, e como, mas longe de mim, uma vida que depende da sua. E fiz a seguinte comparação: ainda consigo rir, ainda sinto meus olhos brilharem vendo você, apesar de tão distante, pendurado entre tantos e outras coisas. Mas acho que isso nem importa, e sim o que eu sinto. Todos os esforços que já fiz pra e por você, coisas que nunca irá saber...Porque o que o que você sente eu não sei, eu já achei muitas vezes que sabia, mas não sei, não sei nem se sente. Mas o que Eu sinto, eu sei, e como sei. É amor, sempre foi e vai continuar sendo, afinal é eterno. E essa é a beleza que isso tem na minha vida e na vida de todas as pessoas, algo tão sereno, tão puro que nos faz sentirmos como crianças novamente, tendo uma pureza intocável. E lá se vem a teimosia de todas as idades, de querer insistir em algo sem nexo, sem vontade alguma, simplesmente por isso ser essencial pra viver. E viver mesmo com isso distante, tão presente nesse coração que sempre vai pertencer a alguém. É gostar de viver nesse vai e volta e de viver esperando algo que parece que nunca volta de uma vez.
O fio nessa comparação toda é uma incógnita, ele pode ser a ponte que me leva até você. E talvez eu seja que nem o bebê, goste mais do que senti nessa ponte toda do que no final dela. Ou talvez eu seja o balão verde, e você todos os tipos de balões safados que me sustentam. E talvez eu goste de estar pendurada, mesmo alguém ou até eu mesma às vezes tentando me arrancar desse elo que nos une, eu não quero ser levada embora por alguém que nem ficou tão feliz por me ter só pra si. E quem disse que eu fiquei tão feliz assim?
Talvez eu queira continuar pendurada, esperando você e somente você pra me arrancar dali, e me leve pra sempre e nunca me solte, pra eu não me perder no ar. Ainda estou pendurada, vou continuar esperando, só não demore muito pra eu não murchar.

"Porque o que quase foi, não pode atrapalhar o que ainda pode ser."

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