domingo, 2 de dezembro de 2012

180 dias de eu prefiro Charlton Heston

Eu realmente não sei no que tudo isso vai dar. E o fato de não saber o que pode acontecer em uma situação dessas é pelo simples fato de eu não ter certeza do que ando realmente fazendo.
Ontem rolou um programinha calmo que por hora pensei que fosse por pena de mim. Cinema sem pipoca, sem ingresso, sem chocolate, sem shopping, sem gente chata, apenas um retroprojetor e a companhia de dois bons amigos. Era isso. Na véspera de uma prova importante pra metade da cidade, menos pra gente, era o que tinha praquele sábado. Um desfecho de noite para um dia que não era dos melhores se este realmente tivesse sido o desfecho da noite.

Uma passada no restaurante mais gostoso da cidade pra "pedir comida para a mãe". Essa era a desculpa. Meu sexto sentido para surpresas já disparava no vermelho desde quando ele atendia o telefone e ia pra longe, mas nunca digo nada porque estragar os planos surpresa de alguém deve ser desagradável demais.
E aí que enquanto a gente se beijava um pouco o táxi chegava na minha casa que compactuava com todo o plano. Minha mini-sala e um outro retroprojetor. Minha mini-cozinha e dois pratos, dois pares de talheres, duas taças, duas velas - isso foi realmente engraçado - e meu prato preferido do restaurante mais gostoso da cidade. 6 meses.
"Meio ano, cara." Foi o que meu amigo do ano havia dito de manhã cedo. E foi o que o antigo garoto dos beagles repetiu à noite, bem tarde pra explicar toda a cerimônia caso eu tivesse ficado um pouco assustada com tudo. Ok, a princípio eu realmente ri internamente por ter certeza de que não era muito minha cara receber um jantar à luz de velas, mas logo lembrei que era a cara dele oferecer tal. E fiquei feliz mesmo assim, mais ainda quando vi o vídeo apaixonado que ganhou daquele que recebi no nono ano do colégio antigo. Fiquei feliz também por ter lembrado e dito antes dele que completávamos mais um mês. Fiquei feliz dele sempre procurar fazer alguma coisa, mesmo tendo quase certeza que eu não vou fazer nada. E daí conversamos, passeamos pelas redondezas enquanto entre uma volta e outra alternávamos entre uma conversa sem a menor importância e uma outra séria. A séria do dia foi meio que surpreendente, não era só eu que andava mal esses tempos. É a partir daí que me bate um desespero de sugar tanto o ombro-amigo, a companhia e a disponibilidade dele e não me doar na mesma intensidade, o que é meio complicado. Mas tentei aconselhar com aquilo que eu sabia por ele ter me contado, e com aquilo que eu sabia e que não tinha sido ele que tinha me contado. Tentei aconselhar no melhor subjetivo possível e parecer ser uma boa pessoa ao invés de uma egoísta mal agradecida. E o assunto morreu um pouco. Em seguida conversamos sobre espiritismo, amizades, correntes filosóficas e o assunto voltou num desabafo, um pedido de desculpa por apresentar uma estranheza que eu não havia notado. Alguns beijos e um outro pedido - não aquele - quase de responder com veracidade se eu realmente tivesse a certeza de respondê-lo com convicção. Preferi beijar e me calar, como sempre. E bem feito pra mim, recebi o pior desfecho da noite.

Sabe, realmente eu não sei onde tudo isso vai dar. Certas vezes, quando ele chega, eu não consigo enxergar a minha explicação de estar com alguém daquele jeito. Já outras, fico feliz por sair do quarto e dar de cara com alguém que me espera sentado no sofá. Gosto tanto quando ele ajeita o cabelo e consegue deixar dum jeito que fica tão natural, mas detesto quando ele não acerta e tenho vontade de terminar a conversa na mesma hora. Odeio quando ele pára no en dehor ou então na segunda posição num leve en dedan ainda que ele não entenda nada de ballet e eu não saiba como ele deveria ficar parado sem arquear ligeiramente os ombros. E mesmo que eu deteste particularmente algumas manias e piadas que ele tem, eu admiro uma série de coisas indefinidas na composição imperfeita do ser humano que ele é. Sendo assim, acho que vai tudo continuar como anda. Eu sem saber muito o que fazer e ele sempre com algo em mente. Ele me contando alguma coisa na qual eu não tenha envolvimento algum - como se eu não fizesse o mesmo - e eu pensando em movimentos de dança contemporânea na rua soturna. Esse esquema de contente&inquietante relacionamento que vivo, sem saber exatamente se o desfecho vai dar pra definir como uma história de amor ou apenas mais outra sobre amor como tantas outras, como a do filme no cinema gratuito. A verdade é que eu realmente deveria dizer alguma coisa, mas vou acatar a sugestão: dizer quando eu realmente quiser dizer.