quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O que eu só queria

Pisei naquela casa depois de quase um ano fingindo o medo que não existia - o de que ele aparecesse. Na verdade, quão estranho porém surpreendente seria esbarrar com alguém que tanto tenho evitado encontrar, mas tanta falta venho sentindo. A desculpa era de ver o cachorrinho novo e ali fiquei sozinha. Se pudesse, ficava sentada, naquele sofá até ele chegar e perguntar o que fazia eu ali, mas a vida é uma correria injusta que às vezes nos tira o tempo que deveríamos ter pra resolver inutilidades de grande importância. 
Eu só queria que ele viesse me perguntar quem tinha me deixado entrar e sairia com vergonha; ou que ele me perguntasse onde estava sua mãe e eu o diria que não sabia ao certo, mas que ela havia dito que não demoraria. Eu só queria ter conversas sérias sem inícios, porque essa é a pior parte de dialogar com alguém que você supostamente irá dizer coisas horríveis e ouvir coisas horríveis. Eu só queria não precisar dizer nada, mas tendo a certeza de que ele entendesse que desistir de uma amizade foi meu maior ato de coragem. Que desvincular minha vida da dele foi o caminho mais fácil que encontrei pra guardar meu amor rarefeito, acanhado, mas que não se esquece dos detalhes de uma vida com um ombro a mais pra apoiar a cabeça.
Lembraria como se fosse hoje se não tivesse saudade como passado. Mas ainda lembro. Lembro das brigas de 5 em 5 minutos, de saber mentira por mentira e de jurar ser mais fria da próxima vez. Mas também lembro de poder chegar a qualquer hora e abafar o caso, desabafar uma situação ou simplesmente desabar. Eu só queria que ele tivesse a certeza de que o fato de fazer quase um ano de estranhamento, eu poderia enxugar aquela lágrima pela incompreensão mundana. Eu só queria que ele soubesse que eu tenho dúvidas. Medo de não ter parado a tempo uma pré-raiva que poderia anular meu afeto. Eu só queria que ele soubesse que eu estava cansada, que é difícil manter a paz entre seres completamente reversos. Ou talvez incompletamente parecidos. Mas o que eu realmente queria era lhe contar tantas coisas.. como dizer que eu sempre fujo de situações complicadas e acabo complicando mais ainda; e que apesar dele ser um tanto quanto prolixo eu conseguia absorver suas precisões. Ninguém me deixava mais com raiva do que estar com raiva e rir de um palhaço fazendo graça na minha frente. E que eu não tenho ódio no coração. Eu finjo essa dureza só pra espantar gente chata e de mentira. Eu só queria chegar com ele e dizer que eu sinto falta, muita falta. E de que a única coisa que ele me fez de imperdoável na vida foi ter estragado a pipoca de outubro passado. O resto, o amor  restante fez vista grossa. Mas ele não sabe - ou finge não saber - de nada disso.



"Quero que você destrua essa barreira entre eu e você com seu sorriso e não me faça sentir tanta saudade."