
Um banheiro. O banheiro do andar de cima, o banheiro do andar de baixo, o banheiro da minha casa. Todos já presenciaram o jorrar de lágrimas. Lágrimas motivadas por sentimentos exacerbados, lágrimas que queriam expelir mais do que lágrimas, um coração do mediastino. Por mentiras, confusões, exageros e supostas perdas. Ou futuras perdas. O que é estranho pois se questiona como não estar acostumado com isso, mas a verdade é que certas coisas a gente nunca se acostuma.
Eu chorei naquele dia por aquela futura perda e arranquei da memória todas as antigas derrotas que sofri. O adeus não dado, a volta não realizada. E gastando todo o papel ali presente me ousei a perguntar. "Por que todo mundo vai embora?"
E como se não bastasse, à noite deitei minha cabeça no travesseiro e chorei mais um rio pedindo numa frequência enorme que aquilo não acontecesse, que aquela perda não se efetivasse, já era doloroso demais certos vazios e aquele seria mais um que não poderia ser ocupado. Graças ou por culpa de minha grande insistência, o esperado não aconteceu. Mas o que eu aprendi com tudo isso foi que dói mais uma perda de alma do que uma perda de corpo, que o importante era a presença abstrata, não um corpo físico. Até porque esse nunca foi dos bons. Quase um antígeno. Penso que se eu quisesse uma presença concreta, me encostaria em qualquer muro dali pra frente.
Dói ver alguém se tornar feio mesmo sendo lindo. E eu me odeio pelo fato de enxergar a tolice das pessoas e achar todo mundo feio, mas eu acho que prefiro não estar nesse meio e acreditar ter gente boa pra entreter meu cansaço de vida quando ao se falar de alma, tenho só zumbis. E se você quer virar um zumbi como todos os outros eu não vou mais te impedir. Eu vou continuar essa luta sozinha porque a partir de hoje eu não imploro mais nada; Alguém ali em cima sabe o que eu preciso sofrer e ganhar pra aprender muitas coisas. O que eu não entendo é como sai tanta coisa bacana da minha boca pros outros e eu não consigo aconselhar a mim mesma. Talvez seja porque eu sempre dei tanto de mim e recebi pouco, que até meu próprio eu se esqueceu de retribuir. Não quero mais saber de palavras, vou me impressionar e impressionar os outros com atitudes.
"Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar" Desorientada e sozinha, não se sabe qual problema desencadeou o outro.