sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A menina dos olhos que não brilhavam


Não era o rostinho mais doce, nem mais suave, muito menos o mais bonito. Era um rosto normal. Cabelos normais. Normal por inteira. Vivia uma vida normal e eu também estava normal pensando em coisas relativamente normais quando a avistei. Ela se aproxima e há o olho no olho. Que olhos lindos! Era um azul opaco magnífico. Com aquele brilho de alegria deveria ficar a coisa mais linda. Por falar em brilho, por onde será que andava? Naquela tarde, ela não demonstrava um sorriso para que eu me vislumbrasse também, mas acho que nada se comparava àquele olhar. Olhos tão pequeninos, digo mesmo às pálpebras. Redondinhos, puxavam a ponta quase despercebida aos não admiradores dos mesmos. Passei mais dias em sua presença ensolarada, fazia tempo que não parava e observava tanto. Mas o brilho não surgiu um dia sequer. Mesmo desnecessário, ao acostumar-me com aquele olhar, ele tornou-se essencial para uma beleza íntegra. Aprofundei mais àquele rosto meio conhecido. Tratava-se de alguém que rodeada de uma multidão de pessoas se sentia sozinha; alguém de muitos amigos mas que não encontrava um para dividir a dor junto, mesmo sabendo que aquela dor era só sua. Mas quem terá sido a alma ruim que a baniu do brilho? Ainda não havia achado a resposta para nenhuma das minhas questões. Um dia parei de verdade a observá-la e cheguei a terrível conclusão: se não havia brilho, não havia felicidade. A opacidade se dava através da solidão, pela insatisfação com a vida, decepções e saudades de um tempo que teima em não voltar. Não aguentei. Ousei em perguntar.
- Quem foi que fez isso com você, menina?
- Eu me perdi de mim mesma. Perdi meus sonhos, minhas expectativas, a piada e o amigo. Tudo por um amor! E ele me deixou cega, sem sorrisos permanentes e sem o discernimento do chega ou continua. Eu não conheço mais meu limite e não sei qual dos caminhos a dor está gritando a favor. Estou cansada mas continuo caminhando a um destino que desconheço.
- Diz-me o nome de quem te fez isso e eu vou te trazer teu tão necessário brilho.
- A esperança - disse. Ela me arrancou do meu eu. Não sei retornar de onde vim mas enquanto ela permanecer aqui continuarei.
- Deixa que eu te guio, menina - respondi e ela rebateu feito zumbi.
- Me deixa ficar. Esse é o tipo de carma que eu preciso carregar porque a coisa me prometeu devolver tudo quando eu chegasse onde um outro brilho se fizesse sozinho.
E parti. Faz tempo que não a vejo nem de longe, mas algo me diz que quem fez tudo isso foi outro alguém. Esperança foi a única coisa que lhe restou, afinal ela é sempre a última que morre. A que sempre leva a culpa também, que funciona para, no caso, ela não desistir desse caminho tão cheio de pedras e perdas, pois no fim dele ela conquistará o brilho permanente de seus olhos e tudo o que não caminhava com ela faz já um tempo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Um projeto um tanto quanto paradoxal


Tenho um plano sem nexo em mãos, mas que não é por isso que não vai ser posto em prática. Querer nem sempre é poder, já dizia minha mãe. Nem precisar. Necessidade é mudar algo que tanto se acha bom porque na verdade te faz muito mal. E a questão é continuar ou desistir. A questão é se dói menos com isso ou sem isso, já que pelos dois caminhos eu sofro. Meu projeto é simples num papel e muito complexo quando posto em ação. Você me vê e não tem noção da batalha na qual ando lutando pra te arrancar de mim, uma batalha em que eu luto em ambos os lados, uma vez que outrora eu luto para uma 3ª qualquer pessoa não te arrancar daqui de dentro. Você não pode ver o que se passa aqui dentro e graças a Deus que eu também não, porque até imagino o estrago. Esse plano de tentar respirar outros ares, andar por outros lugares e ter outros amigos só para tentar outra vida e que nela tu não tenhas tanta influência em tudo e uma trégua de vez em quando por essa saudade desgraçada que me faz andar pra trás justamente por essa necessidade de te ver e de pensar em ti por um segundo sequer. E se alegrar com mínimos olhares, sorrisos e conversas distorcidas que na verdade não significam absolutamente nada. E sofrer mais uma vez por ter certeza de que esse é o caminho certo a fim de parar com o sofrimento por inteiro e saber que ainda tá muito longe de acabar. E assim vivendo nessa batalha contínua que parece não ter fim. Expressar alguma coisa e sentir outra é muito complicado. Eu tiro de letra mas não sei se isso significa algo realmente bom. Escrever tudo o que sinto seria algo realmente desgastante. Eu preciso te ter por algum lugar em alguma hora do dia nem que seja pelo sofrimento ou pelo sonho que depois acordo e tenho uma sensação tão boa como se fosse verdade mesmo tendo certeza de que não é. Eu luto comigo mesma nessa história toda e acho que preferiria que existisse um vilão. Ah como era tão simples aqueles tempos que ignorar resolvia tudo e como eram bons aqueles tempos de que tudo tinha uma solução. Continuar ou desistir? Prefiro pedir socorro.