domingo, 20 de junho de 2010

Em vão (Yana Martins e Larissa Justino)

" - Poisé. - disse. É tudo tao inútil, o que eu fiz, o que eu faço, o que eu faria por ele, os textos presentes, pensamentos, o sentimento dedicado, pra alguém que não quer. E o pior, eu não consigo parar de querer doar, seja o que for, por mais simples que seja, tem uma esperança chata que por mais que eu diga pra mim mesma, esquece, acabou. Ela fica falando 'pode não ter acabado, ainda tem chance, não esquece dele não'. Mas tu já sabes de tudo isso é discurso à toa, porque nós duas já sabemos como é que isso acontece de cor e salteado.
- E persistimos."

Só supondo

Suponhamos, meu bem, que você se importe comigo. Que você se preocupe com o meu amar por você sem medidas, incondicional, acima de qualquer coisa, mesmo que não possa correspondê-lo. Suponhamos que você leia meus textos e pense "meu deus, o que posso fazer pra ela me amar menos, pra ela ver que eu não sou tudo isso, pra ela parar de sofrer tanto?". Suponhamos que você se sinta um inútil por viver bem e feliz enquanto eu ando te precisando a qualquer custo, a qualquer hora em qualquer lugar que eu estiver. Eu te acharia a pessoa mais linda desse mundo, mais ainda. Eu, na condição de te amar e te ver, assim, se preocupando comigo, te diria: pode ir. Porque meu amor é tão intenso que ultrapassa qualquer entendimento; ele é definitivamente inexplicável. Ele te deixa ir, se for pra ser feliz, se for pra ver aquele sorriso mais uma vez perto de mim. Eu abro mão do que for pra isso, se você se importasse comigo. Se. Se isso não fosse apenas uma suposição, se tudo não passasse de um sonho. Mas você vai sem eu te deixar ir, sem se preocupar comigo. E a cada dia que passa eu sinto falta de uma parte nova tua, um gesto teu, uma lembrança nossa, e me dói muito não ter aquela certeza de que você vai voltar, não saber o que se passa, nem com você muito menos comigo. Tudo isso dói e não há remédio que cure.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Luz e Sombra


O que virá depois? - pergunto então para a tarde suja atrás dos vidros, e me sinto reconfortado como se houvesse qualquer coisa feito um futuro à minha espera. Assim como se depois do chá fumasse lentamente um cigarro mentolado, olhando para longe, aquecido pelo chá, tranqüilizado pelo cigarro, enlevado pelo longe e principalmente atento ao que virá depois deste momento. Faz tempo não tomo chá, e controlo tanto os cigarros que, cada vez que acendo um, a sensação é de culpa, não de prazer, você me entende?
Não, você não me entende. Sei que você não me entende porque não estou conseguindo ser suficientemente claro, e por não ser suficientemente claro, além de você não me entender, não conseguirei dar ordem a nada disso. Portanto não haverá sentido, portanto não haverá depois. Antes que me faça entender, se é que conseguirei, queria pelo menos que você compreendesse antes, antes de qualquer palavra, apague tudo, faz de conta que começamos agora, neste segundo e nesta próxima frase que direi. Assim: é um terrível esforço para mim. Se permanecer aqui, parado nesta janela, estou certo que acontecerá alguma coisa grave - e quando digo grave quero dizer morte, loucura, que parecem leves assim ditas. Preciso de algo que me tire desta janela e logo após, ainda, do depois. Querer um sentido me leva a querer um depois, os dois vêm juntos, se é que você me entende.
(...)
Não me pergunte como nem por quê, mas a janela não dá para uma rua, como a maioria das janelas costuma dar. A janela dá para aqueles intermináveis telhados de zinco dos quais já falei. Sim, sim, tentei me interessar pelas manchas do zinco, seus pequenos sulcos, as ondulações e todas essas coisas. E realmente me interessei, durante algum tempo. Mas os telhados são intermináveis, você sabe. Não, você não sabe, você não sabe como tentei me interessar pelo desinteressantíssimo. Então começou novamente aquela sensação de enjôo: os telhados estendem-se até o horizonte, como um enorme carpete verde. Antes de começar a vomitar olhando os telhados, felizmente vieram as pombas. Mas como eu já disse: são cinzentas, o ruído que fazem é como o de asas de morcego. Seus bicos batem freqüentemente contra o vidro da janela. Não houvesse vidro, tocariam meu rosto. Para não vomitar, tento olhar para além dos telhados que se fundem ao infinito. Não vejo nada, só o cinza pesado do céu e a fuligem que se deposita aos poucos nas beiradas da janela. Ao entardecer a fuligem ganha uns tons rosados, e logo depois, quando baixa o escuro, chega o momento de me encolher sobre o carpete para finalmente dormir.
Essa hora, quase sempre a fuligem do céu tem aqueles tons rosados. Está amanhecendo. Na porta, o pão, a lata com água, o maço de cigarros. Para apanhá-los, mesmo que olhe em frente ou para cima, o verde do carpete me invade os olhos e sempre vomito. Nem sempre sou ágil o suficiente para, com um movimento de cintura, evitar que o vômito caia sobre o pão, a água, os cigarros. E quando vomito sobre eles, sempre escuto o ranger de dentes atrás da porta. Nesses dias não como, não bebo, não fumo. Apenas caminho até a janela e, desde o momento em que o rosa se desfaz e o cinza baixa outra vez, as pombas bicando meu rosto protegido pelo vidro, repito sempre assim - deve haver alguma espécie de sentido ou o que virá depois?
Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo por que digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora.
Por vezes fecho os olhos e tenho a impressão que esses telhados intermináveis são a única coisa que existe dentro de mim, você me entende agora? O quê? Sim, tenho vontade de me jogar pela janela, mas nunca foi possível abri-la. Não, não sei o que gostaria que você me dissesse. Dorme, quem sabe, ou está tudo bem, ou mesmo esquece, esquece. Não consigo. Quando vomito sobre o pão, não consigo comer nem vomitar depois. Gosto de vomitar, é um pouco como se conseguisse chorar. Quem sabe você conseguiria pelo menos me ensinar um jeito de vomitar sem precisar comer? Apesar das minhas unhas crescidas, ainda não estão longas nem afiadas o suficiente para que possa cravá-las em minha própria garganta. Sim, devo ter lido isso em algum livro. Mesmo dito assim, talvez seja essa a única saída. Gostaria de evitá-la.
Dentro de mim, não consigo deixar de pensar que há alguma espécie de sentido. E um depois. Quando penso nisso, é então como se alguém dançasse sobre esses intermináveis telhados de dentro de mim. Sobre os telhados cinzentos alguém vestido inteiro de amarelo. Não sei por que exatamente amarelo, mas brilha. O vento faria esvoaçar seus panos e cabelos. Num grande salto aberto, esse alguém que dança alcançaria a janela abrindo-a com um leve toque das pontas dos dedos. Quase sempre tenho certeza que deve ser você.
Não, não diga nada. Prefiro não saber que não. Nem que sim. Você me despreza por estar aqui assim parado? E outra vez, não diga nada. Não consigo ver claro seu rosto que os panos e os cabelos cobrem por inteiro, soprados pelo vento. Sei também que, após o salto, você me tomaria pela mão para que eu finalmente levantasse daquele segundo degrau, atravessando a rua de terra solta quente vermelha para, quem sabe, mergulharmos juntos na água fresca do rio. Sei ainda que você me tiraria daquele quarto escuro, entre véus e teias, e mataria um a um os morcegos, para que sentássemos à frente da casa, sem os outros, espiando a queda vertical das estrelas na noite quente de janeiro.
Queria pensar que é esse o sentido, que será esse o depois. Não sei se posso. Há dias, como hoje, em que por mais que minta sequer con - Dá-me mais vinho, porque a vida é nada - sigo ver você, seus membros longos que o vento rouba dos panos. Só Fernando Pessoa: “Cancioneiro” escuto os dentes rangendo e os ruídos internos do meu próprio corpo. Tudo isso me cega. Leva-me daqui, eu peço. E cruzo as duas mãos sobre o peito, como se sentisse frio ou afastasse demônios. Aperto o rosto contra o vidro. Duas pombas, cada uma delas bica um de meus olhos. Tal - Quem conhece Deus - vez um dia consigam quebrar o vidro. Sem querer, lembro de uma antiga sente as coisas internas história de fadas: duas pombas furavam os olhos de duas irmãs más, você e é amigo dos morangos lembra? Havia fadas, naquela história. Não há ninguém dançando sobre que nunca morrem. os telhados. Nunca houve. Para não ver o cinza que se transforma em Henrique do Vaile: “Os morangos são eternos” verde, olho para além deles.
O dia está muito quente. Quando a tarde avançar, sei que me encontrará sentado no degrau. E depois que o cinza tiver se transformado em rosa e em violeta e em azul profundo e por fim em negro, sei que estarei parado no centro daquele quarto, ouvindo os guinchos estridentes e o bater de asas dos morcegos. Gritarei, então. Muito alto, com todas as minhas forças, durante muito tempo. Não sei se foi esta a ordem, se será assim o depois. Mas sei com certeza que nem você nem ninguém vai me ouvir.


*

COMO A VIDA DE ALGUÉM SE ACABA ANTES DO FINAL???
se morte fosse solução, juro que não pensaria duas vezes

domingo, 13 de junho de 2010

Carta àquele que de amor virou desconhecido

Belém, 13 de junho de 2010
Fulano,

Primeiramente desculpe por não utilizar nenhuma forma de tratamento antes do teu nome, mas é que eu nem sei o que somos e fiquei com medo de parecer querer ser íntima demais ou reservada demais depois de tudo que aconteceu ou que não aconteceu mais. Venho aqui te dizer algumas coisas que talvez você já saiba mas que parece que entra na tua cabeça e sai na mesma hora, como o ar que respiras.
Lembras-te das inúmeras vezes que te deixei ir embora? Queria te dizer que nunca deixei, mas sempre esperei por tuas voltas. Queria te dizer também que dessa vez tá demorando muito, e eu já tô ficando cansada de toda essa situação. Não que eu vá desistir - posso te esperar por mais mil vidas - mas é que, se fores parar pra pensar, das vezes que não te tinha só pra mim, tinha ao menos por perto. É disso que eu falo. Porque sempre fui muito humilde com essa história de amar, me contento com um simples estar perto, ser amiga, dar e receber abraços, oferecer o ombro nas horas difíceis, transformar qualquer besteira em um assunto longo e conversar horas a fio. Mas agora não estamos fazendo nada disso. Porque pra mim amar não se resume a beijos, juras de amor e presentes no dia dos namorados; qualquer criatura sã sabe que amar é muito mais que isso, você é mais que isso e nós poderíamos ser muito mais que isso, muito mais que fomos um dia. Você não sabe o quanto dói olhar pro lado e ver que quem eu mais queria que estivesse ali não está e saber que mesmo que nunca voltemos a ser o que éramos (ou o que eu achava que éramos) no verão passado, o estar perto, ser amiga, dar e receber abraços e conversar horas a fio já tava de bom tamanho. Dói saber que quem eu queria que estivesse ao meu lado e não está, vive por outros caminhos, junto de alguém que também já esteve ao meu lado. Sabe, sempre fomos muito amigos, e agora o que somos? Aliás, já fomos alguma coisa ao menos um dia? Tenho muitas dúvidas na minha cabeça, sobre o que você anda fazendo, dizendo e sendo. Digo e repito que não és mais o meu. O meu sabe, que talvez nunca tenha sido. E talvez nem existas, não do jeito que eu te idealizo, que eu te defendo mesmo na hora de precisar me defender, de tentar não deixar os outros sentirem pena de mim por tudo que me fizeste, e tentar enfiar nessa tua cabeça que sempre foi aberta para novos conhecimentos de que apesar de tudo se você voltasse agora, nesse instante eu te receberia com todo o amor que eu tenho. Eu tenho tanto amor pra te dar, é tão difícil entender isso? É tão difícil entender que você não vai encontrar alguém que te ame mais do que eu? Tá bom, talvez seja melhor desistir de tudo mesmo, só me diga como? Qualquer coisa é melhor que isso, como estamos ou como eu estou sozinha. A cada dia que passa eu percebo que tô caminhando sozinha, descalça e com o coração partido, e sem ninguém pra vir juntar os cacos. Na verdade eu acho que ninguém é bom o suficiente, bonito o suficiente, inteligente o suficiente e engraçado o suficiente quanto você. Ninguém consegue fazer uma harmonia entre essas coisas, tudo o que me faz pirar. Vivem me dizendo que eu posso sim encontrar uma outra pessoa com essas características mas cadê essa outra pessoa que eu não encontro? Devolva meu coração que um dia eu te entreguei sem pestanejar, um doar de coração mesmo, de verdade. Eu quero seguir em frente, estudar, dançar, sair, curtir, encontrar uma nova maneira de ser feliz, sem precisar de ti que me fez tão mal mas eu ainda insisto em dizer que é o ápice da minha felicidade. Tô achando tudo isso impossível, você teve a proeza de impossibilizar o que já foi possível, o que já vivi e agora é como um sonho inatingível. Agora queria te dizer o último adeus, o adeus de verdade, o "muito obrigada por todos os momentos e nunca faça mais essa sacanagem com ninguém" e descobrir como se faz pra amar sozinha.
Uma boa vida e um abraço para aquela que está sendo a "amada" do momento. Amar é mais que isso que você pensa meu bem.

p.s.: ...continuo te esperando